terça-feira, 12 de maio de 2015

: crônicas daqui (06)


O Chiclete da Camareira

Semanas atrás estive em uma praia na Bahia e fiquei hospedado em um belo hotel. Serviço excelente, funcionários educados e uma ótima estrutura. Mas ainda que o hotel fosse muito bom fiz algo que sempre faço em hotéis: um teste de confiança com as camareiras que arrumam meu quarto. “Ah Olavo, isso é tipo aqueles testes do João Kleber?!”, não, claro que não! Mas, de certa forma, queria testar, sim, a fidelidades delas. A fidelidade com a honestidade. Não que eu seja, assim, tão preocupado com as escolhas morais das camareiras, só acho divertido ver como as pessoas se comportam quando ninguém está olhando.

Mas me deixe contar o que fiz: montei uma armadilha. Isso mesmo, eu preparei uma armadilha para testar a honestidade das camareiras! Antes de sair para ir à praia, e deixar meu quarto para arrumar, guardei todas minhas coisas na mala e tranquei com o cadeado. Sim, eu faço isso sempre que vou sair do quarto do hotel em que estou hospedado. Daí, peguei uma caixinha de chiclete, contei quantos haviam dentro – eram 9, lembrem-se desse número porque ele é o número cabalístico da honestidade hoteleira – e deixei em cima da mesa, perto de alguns livros meus. 

“Ah Olavo, você falou que guardou tudo mas deixou os livros fora da mala, você está sendo incoerente!”. Não, não estou e não faz sentido eu simular um diálogo comigo mesmo e me acusar de incoerente. Mas mesmo assim eu vou me explicar para mim mesmo e para você que está lendo este texto. Deixei os livros porque se somente a caixa de chicletes estivesse sobre a mesa não haveria um cenário natural para criar a armadilha e certamente as camareiras desconfiariam, pensando “quem sai do quarto, guarda tudo dentro da mala e só deixa chicletes sobre a mesa?”. Camareiras são profissionais espertas e não poderia me dar ao azar de colocar todo meu plano a perder logo agora. Eu já havia ido longe demais para retroceder. 

É importante mencionar que minha mulher, que me acompanhava na viagem, não sabia de nada sobre a armadilha, e esse é um aspecto fundamental, porque quanto menos gente souber do seu plano, mais chance de sucesso ele terá. Deixei a caixa de chiclete sobre a mesa, perto dos livros, meticulosamente colocada como se fosse algo sem importância, e saí. Lembrem-se, havia 9 chicletes. Vou até escrever por extenso: nove. Fui até a praia e, depois de quase me afogar em umas ondas no raso, perder meus óculos e pegar uma semi-insolação, voltei para meu quarto. Estava contente por voltar para o paraíso do ar condicionado mas ao mesmo tempo ansioso e preocupado com o sucesso de minha armadilha.

Cheguei na porta do quarto e coloquei o cartão no sensor para abrir a porta. Não abriu. Fiquei tenso. Coloquei de novo. Abriu. Acho que nunca consegui abrir essas portas eletrônicas de quarto de hotel de primeira. Mas isso não tem nada a ver com a tocaia que eu havia montado. Logo que entrei no quarto, com apenas um olhar ágil fiz a leitura de todos objetos do quarto. Pode parecer difícil fazer isso, mas depois de um tempo praticando – você pode começar praticando no seu quarto – você também terá esse mesmo olhar treinado, afiado e perspicaz que tenho. Constatei que tudo estava como eu havia deixado, menos uma coisa: a caixa do chiclete. Rá! Ela estava ‘sobre’ os livros e não ‘perto’ deles. Desconfiei. Como um detetive, comecei a juntar os fatos. Até agora eu sabia que havia montado uma armadilha com a caixa de chicletes para a camareira e ela havia mexido na tal caixa. Isso era um indicio contundente de que algo poderia estar errado no interior daquela caixa com, lembrem-se, 9 chicletes. Nove! Me aproximei vagarosamente, com todo cuidado que uma cena de crime hoteleiro requer, peguei a caixa delicadamente, evitando apagar qualquer possível evidência, e em um movimento certo e preciso abri a caixa do chiclete. Contei: só haviam 8 chicletes lá. Estava consumado. 

Olhei para minha esposa, sentindo uma mistura de satisfação pelo êxito da missão com a insegurança de ter sido roubado.

– O que foi? – perguntou ela. Tirei um a um os 8 chicletes da caixa, contando em voz alta, e ela continuou me olhando com uma cara de “O que que tá acontecendo”.
– Não está vendo? Fomos roubados! – respondi, com ares de Sherlock Homes – Eu deixei 9 chicletes nessa caixa e agora, depois que a camareira arrumou o quarto, só há 8.

A testa franzida no rosto da minha mulher mostrava sua indignação com a situação. Ou talvez fosse a expressão de quem não acredita que o ao invés de se divertir e relaxar na praia, seu marido montou uma armadilha para testar camareiras. Não tenho certeza, mas gostaria que fosse a primeira.

Pensava que se a camareira foi capaz de roubar um simples chiclete, do que mais ela seria capaz? Ela até limpou o quarto muito bem e deixou tudo organizado, mas naquele momento eu não sabia mais se ela era uma boa camareira ou apenas queria apagar os rastros do crime cometido. Afinal, nem mesmo o papel do chiclete estava no lixo.

Me sentei na cama olhando para a caixa de goma de mascar em minhas mãos e, lentamente, desembrulhei um chiclete de sua embalagem e botei em minha boca, repetindo o ato que a camareira provavelmente havia feito. Eu tentava repetir atitudes dela para entender suas motivações. Mascava e pensava “por que será que ela roubou meu chiclete?”. O forte sabor de hortelã se espalhava pelo meu paladar e eu refletia sobre os reais motivos daquela camareira. 

Pensei em várias possibilidades. Será que ela sofria de mau hálito e naquela hora ela iria conversar com seu chefe? Será que ela é daquele tipo de pessoa que gosta de viver no limite da lei e quis se arriscar pegando meu chiclete? Talvez ela fosse adicta em gomas de mascar e minha armadilha poderia ter sido uma tentação que a fez interromper os “264 dias sem mascar chicletes só por hoje”. Por um instante me senti um pouco culpado e assoprei uma bola de chiclete. Ponderei, também, que talvez ela tivesse tido uma súbita queda de glicose e em um ato de sobrevivência desesperada, pegou a única coisa com açúcar que havia perto dela: o chiclete. Mas essa possibilidade se mostrou falsa, já que como o chiclete era sem açúcar se fosse uma crise hipoglicêmica ela estaria agora estirada no chão do meu quarto.

A verdade é que eu nunca saberia a resposta, nunca conheceria sua motivação adocicadamente criminosa. Mas o que mais me incomodou foi que jamais descobri qual das camareiras havia roubado meu chiclete e daquele momento em diante, pelo menos até o final da viagem, não confiei em mais ninguém. Todos eram suspeitos. Pelo resto dos dias que fiquei hospedado naquele hotel sempre que encontrava com alguma das camareiras no corredor, fingia que estava mascando chiclete de boca aberta, bem exagerado, e as cumprimentava olhando profundamente para elas. Tinha a esperança de que demonstrassem o olhar culpado de quem roubou minha goma de mascar.

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: maníaco em séries


domingo, 28 de setembro de 2014

: Diálogos Inesperados (06)

Consultório Médico
por Olavo Virgílio

- Com licença. Boa tarde.
- Boa tarde.
- Você está aguardando consulta?
- Sim, meu horário é o das três e cinquenta e cinco.
 - Ufa, achei que tinha chegado atrasado. Tenho consulta às dezesseis horas.
- Ué, você está marcado às dezesseis horas?
- Isso, dezesseis horas.
- Peraí? O médico marcou sua consulta para cinco minutos depois da minha?!
- É, parece que sim.
- Mas isso é um absurdo! Como é que vou fazer se meu caso exigir mais tempo?
- Não entendi?
- Se eu demorar para falar ou quiser contar todos os detalhes? Em cinco minutos eu mal calço meu tênis e esse médico quer me consultar?
- Calma, cara.
- Calma?! Você não sabe o trabalho que dá ficar passando o cadarço por aqueles buraquinhos do All Star e...
- Não, tô falando pra ter calma com esse lance do médico!
- Bem que eu gostaria, mas como é que vou ter calma com uma consulta de cinco minutos? Hein? Me diz? Cinco minutos é o tempo que o juiz da de acréscimo no futebol! E olha que é só depois de quarenta e cinco minutos de jogo! Eu, não! Só vou ter cinco minutos e acabou, fim.
- Será que você não está exagerando um pouco?
- Olha só, ele está me dando o mesmo tempo que daria para alguém com um resfriado ou uma afta e você acha que eu estou exagerando!?
- E a sua doença é grave?
- É exatamente isso que eu gostaria de saber! Mas pelo visto, em cinco minutos não vai dar tempo nem dele me dizer se realmente é uma doença.
- Fique tranquilo, eu tenho certeza que não é nada grave.
- E se for? E se for uma daquelas doenças de nome comprido e complicado? Ele só vai conseguir me falar tudo quando eu vier para o retorno. Isso se eu voltar, né? A doença pode ser tão séria que posso acabar morrendo antes...
- Olha só, você precisa relaxar. Os médicos são treinados, eles passam vários anos estudando e são experientes.
- E daí? Meu barbeiro tem mais de trinta anos de experiência e se ele cortar meu cabelo em cinco minutos eu saio de lá parecendo um índio! E você sabe que os índios sempre estão cheios de doenças raras difíceis de diagnosticar. 
- Ficar nervoso só vai atrapalhar sua consulta com o médico.
- Eu ficaria tranquilo se fossem pelo menos vinte minutos de consulta! Se soubesse que eram só cinco minutos eu teria pegado emprestada a carteirinha do convênio da alguns amigos e marcado logo umas quatro consultas em sequência...
- Bom, eu acho que cinco minutos tempo suficiente.
- Ah, deve ser porque você está com uma unha encravada ou cera demais no ouvido.
- Pneumonia. Eu estou com pneumonia...
- Nossa... Poxa, me desculpe.
- Tudo bem.
- Assim... eu não quero te preocupar, mas...
- Mas o que?
- Se em cinco minutos esse médico diagnosticou uma pneumonia em você, o que ele acharia se tivesse meia-hora?

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sábado, 27 de setembro de 2014

: vote em mim!


Amigos, eu quero me eleger presidente. Não deixe pra depois, vote #42!



quinta-feira, 27 de março de 2014

Diálogos Inesperados (05)

A Teoria dos Bebês

- O que você tem, querido?
- Ah... não é nada.
- Mas meu bem, você está estranho.
- Sabe, eu tava pensando...
- No que?
- Quer saber? Deixa pra lá. Eu não quero falar sobre isso agora... Vou terminar de calçar o sapato e a gente sai.
- Pode falar, meu bem.
- Tá bom... é que...
- Vai, fala logo.
- É... é que eu não consigo achar bebê bonito.
- Como é que é?
- É isso, eu não consigo achar bebê bonito.
- Como assim? Do que você está falando?
- Sabe quando nasce um bebê e fica todo mundo falando ”que coisinha mais linda”, “que bonitinho” e tal?
- Sim. O que é que tem?
- Poizé, quando vou olhar sempre acho horroroso...
- Que isso, meu bem?
- Sério, eu acho feio. Muito feio, na verdade. Cabeça grande, carinha enrugada, meio desconjuntado. Sei lá... esquisito.
- Não é esquisito querido, é uma criança, um recém nascido.
- E daí? Só porque é criança não pode ser feia?
- Talvez dentro dos padrões da beleza seja feinho mesmo, mas é bonitinho porque é fofinho, pequenininho e...
- E desde quando tudo que é pequeno é bonito? Você acha os anões bonitinhos? Ou por acaso o seu salário fica mais bonito no final do mês? O dedo mindinho do seu pé, por exemplo, é medonho.
- Não é isso, é porque os bebês são tão engraçadinhos!
- Opa, peraí! Vamos deixar uma coisa clara aqui: engraçado é Costinha, Larry David e gordo caindo. Bebê é completamente sem graça. Por acaso você conhece algum bebê que seja humorista?
- Nã... não. Como assim?
- Viu, tá comprovado! Não há nada de engraçado com eles. Nem de bonito. Eles parecem um rolo de fita crepe amassado. Ao invés de dar roupinhas de bebê, as pessoas deviam dar máscaras pra esconder a feiurinha deles.
- Não fala assim. E os nossos filhos?
- Eram bebês feios. Todos feios. E o nosso mais velho, na verdade, continua feio. Acho que a gente não fez ele direito. Sei lá, vai ver foi falta de prática, né? Até hoje aquela foto dele na sala sempre me causa arrepios.
- Acho que você está exagerando...
- Não tô não, pensa comigo. Talvez os bebês chorem tanto na maternidade porque eles ficam o tempo todo olhando uns para os outros e acabam se assustando, coitados!
- Ah, não. Agora você passou dos limites!
- É sério, deve ser por isso que eles choram quando ficam sozinhos. Eles vão ficando com toda aquela feiurinha de si mesmo e vão entristecendo. Vai ver que na maior parte do tempo em que os bebês estão chorando não é de fome ou de dor, é de feiura mesmo.
- Sei... e você devia ser o bebê mais bonito da maternidade, não é?
- Hum, não sei. Eu não lembro. Tá aí, mais um elemento para minha teoria.
- Que teoria, meu deus do céu?
- A Teoria da Feiura na Primeira Infância, que estou formulando agora. Raciocina: talvez seja por isso que a gente não lembra nada dos primeiro anos de vida. O trauma da feiura é tão grande que o cérebro apaga nossa memória de quando somos bebês!
- Quer saber? Pra mim chega. Se você não quer ir no chá de bebê, tudo bem. Não precisa ficar inventando desculpas mirabolantes. Eu vou sozinha!
- Não fica chateada, querida. Explica lá pra sua amiga que eu não tenho nada contra o bebê dela. Eu apenas me assusto com facilidade.

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Feliz Aniversário - Traste

Nesse traste eu falo sobre as músicas intermináveis e constrangedoras da hora do parabéns, da relação entre festão-presentão e várias outras coisas inacreditáveis! (Tá, só estou tentando te convencer a assistir. Você não pode me culpar por isso...)


Para assistir, clique AQUI!
(Por algum motivo paranormal o blog não me deixou incorporar
vídeo direto do YouTube. Por isso a opção do link)

quinta-feira, 13 de março de 2014

crônicas daqui (05)


O dia em que passei a acreditar na Astrologia


Eu sou cético. Não acredito no aquecimento global, nas mensagens ao contrário no disco da Xuxa e muito menos em astrologia. Se nem a meteorologia é capaz de me garantir se amanhã vai chover, imagina se a posição dos planetas vai mostrar o que acontecerá no meu futuro. Sou tão cético que só grito gol depois do replay. De quatro câmeras diferentes.

Mas desde que comecei a ter uma dor no pé que nenhum médico descobria a origem, minha namorada insistiu que eu deveria ir ao astrólogo dela. Relutei durante um bom tempo, pois não entendia como meu signo revelaria algo que duas ressonâncias magnéticas não mostraram. Mas acabei indo. Logo na chegada notei que estava escrito “Guru Zórze” em cima da porta daquela sala. 

- Zórze? Que tipo de nome é esse? É alguma entidade esotérica?
- Não, seu bobo - disse minha namorada, que me acompanhava - O nome dele era Jorge, mas mudou depois que sua numeróloga falou que o som de gês e jotas traziam más energias para ele.
- Ué, e por que não está escrito Zuru na placa, então?
- Ah, para de implicar. Ele é muito bom, você vai ver! Só de te olhar ele é capaz de dizer se você está com a energia boa ou ruim!

Esse é um primeiro fato interessante sobre gurus astrólogos. O termo energia ruim serve pra justificar qualquer coisa, desde não conseguir vaga no estacionamento do shopping ou um cachorrinho tentar te morder até a perda da copa de cinquenta e o aparecimento do nazismo. Ao entrar no local uma secretária me explicou que Zórze não recebia ninguém diretamente da rua e que eu precisaria ficar ali por sete minutos até que as impurezas do mundo energético fossem limpas.
- Mas eu acabei de tomar banho! - retruquei.

- Eu entendo, senhor. Mas energias ruins não saem apenas com um pouco de sabão.
- Pouco? - me ajeitei na cadeira - Por acaso você sabe quanto tempo eu gasto me ensaboando embaixo do chuveiro?
- Não quis dizer isso senhor, eu só...
- E isso sem contar que se meu sabonete é capaz de matar 99% das bactérias que aparecem maltratando aquelas crianças na propaganda de televisão ele deve ser capaz de limpar essa energia também, não é? - disse, enquanto passava álcool em gel na mão para enfatizar minha higiene.

Mas tive que esperar. Depois de quinze minutos, quando já achava que minha energia devia estar imunda, a secretaria finalmente disse que eu podia entrar na sala de Zórze. Entrei. O lugar parecia uma mistura de casa de avó com o cenário do Avatar: cheio de coisa velha e umas samambaias decoradas com cristais. Além disso, havia uma música mantra tocando ao fundo e um barulho de água pingando delicadamente.

Uma segunda coisa sobre gurus: quem foi que disse que mantra relaxa? Se eu não suporto nem ouvir o cara da pamonha passando em frente minha casa, imagina uma voz ficar repetindo uma palavra sem sentido por horas e horas. E outra, quem acha som de goteira relaxante é porque nunca viu aquele episódio em que o Pato Donald não consegue dormir por causa da goteira na pia da cozinha.

- Paz e luz. Eu me chamo Zórze e estou aqui para te azudar - disse o gordinho barbudo sentado em uma posição desconfortável e cercado por uma horda de gnomos de gesso.
- Eu... Oi. É... Eu vim em paz - disse, meio sem saber o que falar - Eu estou aqui por causa de uma dor no pé e...
- Não fale mais nada. Sua namorada me passou sua data de nascimento e eu zá construí o seu mapa astral - disse fazendo gestos ‘exazerados’.

A terceira coisa sobre gurus astrológicos é que eu nunca gostei muito dessa coisa de mapa astral. Pra mim isso é desculpa de astronauta perdido. Se até carrinho de compra já tem GPS por que ainda existe esse tal de mapa astral? Mas o Zórze disse que não, que o mapa revelava como a posição dos astros no dia do meu nascimento influenciava os acontecimentos da minha vida.

- Astros? Por que você não falou logo! - disse, empolgado - Bom, John Lennon e Jimi Hendrix já tinham morrido quando eu nasci, mas o Raul Seixas ainda estava vivo. Eu gostava dele, mas não sei se ele influenciou tanto a minha vida e...
- O quê? Não! - falou Jorge com Z - Os astros que eu falo são o Sol, a Lua, Zupiter e os outros planetas. Nada de Zon Lennon ou Zimi Hendrix. – é, ele levava a sério esse lance de gês e jotas.

Realmente não conseguia entender como Júpiter ou o cometa Halley poderiam influenciar minha vida, a não ser que fossem Júpiter Maça ou o Bill Haley and  his Comets. Mas acabei concordando.

- O desenho dos astros indica que você vai passar por um tempo de mudança já que o Sol está chegando na casa de Saturno, e...
- Na casa de quem?! - interrompi.
- Na casa de Saturno.
- Ufa, que susto, achei que era lá em casa. Odeio visitas surpresas...
E quando eu achei que nada ia sair daquela consulta com o gordinho Zorze, ele disse:
- Ah! Seu mapa está me revelando que o senhor tem problemas com peixes com ascendentes em aquário e...
- Peraí! - disse assustado - Como o senhor sabe disso? Nesse mapa mostra que meu peixe beta morreu na semana passada?
- O quê?
- Ué, você não acabou de falar que meu peixe teve um acidente no aquário?
- Não, eu disse ascendente! Ascendente!
- Então, é isso! Foi acidente mesmo! Eu fui colocar comida pra ele e sem querer derrubei o aquário no chão. Ainda tentei salvar ele, mas no desespero acabei o botando o peixe no meu copo de Coca-Cola e quando voltei pra olhar ele já tinha se desintegrado - eu estava simplesmente chocado com o poder de Zórze - Nossa, o senhor é bom mesmo, hein! Nem falei nada e você adivinhou toda a história sobre o aquário e...
- Não, não. Veza, eu...
Valha-me-creio-em-deus-pai! - gritei horrorizado, levantando da cadeira.
- O que foi?
- O aquário caiu no meu pé!
- No seu pé? E daí?
- E daí? É por isso que eu estou com dor. É isso! Você é um gênio, quero dizer, zênio! Você é um zênio!
- Não, eu... certo, certo. Olha, tudo bem. Que bom que eu azudei. Mas independente de qualquer coisa não precisa se preocupar porque zá é a era de aquário e...
- É eu sei... já era mesmo - disse, triste.
- Zá era o quê?
- Já era meu aquário.
Sai da consulta em estado de choque, afinal o tal do gordinho com Z havia descoberto que toda a medicina do ocidente não foi capaz de revelar.
- E aí? Ele te ajudou? – perguntou minha namorada.
- Me azudou tanto que eu zostaria de voltar outra vez.

Leia as crônicas anteriores aqui!
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quemvimververa, o retorno!


Poizé, quase um ano e meio depois eu decidi retomar as atividades aqui do quemvimververa. Mudei um pouco o layout, abandonei a persona @quemvimververa e vou botar em prática novas ideias! Quando eu criei o blog em 2011 eu ainda morava em São Paulo e era um hobbie bem divertido de manter. Mas o tempo passou, eu voltei pra Brasília e acabei me afastando daqui.

Mas nessa nova fase o quemvimververa não será mais um blog tradicional que posta essas piadinhas aleatórias não! Agora ele será um espaço para eu colocar textos como a série crônicas daqui e diálogos inesperados e, também, os vídeo do meu canal Olavo Virgílio.

Ah sim, o conteúdo antigo continuará disponível. Se você não conhece, vale a pena conferir porque tem muita coisa engraçada. Tá... nem tanto assim, mas olha lá.

Infelizmente eu acredito que as 28 pessoas que acompanhavam o blog não devem mais nem lembrar que ele existe, mas se elas voltarem aqui espero que gostem das mudanças. :)

E pra começar já vou por um texto novo!


E a partir de agora está reinaugurado o quemvimververa! 
(leia isso pensando em som de champanhe barata estourando)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

: crônicas daqui (04)

Amigo oculto de natal


Assim como produtos tóxicos e homens de má índole criaram terríveis vilões, as lojas de R$ 1,99 e famílias numerosas criaram o amigo oculto. Essa prática se espalhou por todas as esferas sociais e se tornou uma certeza em qualquer festinha de fim de ano, seja do trabalho, da faculdade ou da família. Eu já vi amigo oculto até de pessoas que utilizam o mesmo elevador, mas achei um excesso. As pessoas precisam parar de agir como se o amigo oculto fosse uma coisa legal e que une as pessoas, porque na verdade é uma das coisas mais perversas já inventadas, fazendo com que pessoas que se amam passem a se odiar no exato instante em que ganham aquele kit de caneta, chaveiro e lanterna que se compra em qualquer camelô. Se o presente dado fosse algo bom certamente o ‘amigo’ não iria ficar oculto, se escondendo até o último momento. Se está oculto, desconfie, porque coisa boa não fez. Esse tipo de troca de presentes faz com que a noite de natal se transforme numa espécie de palestra motivacional de quinta categoria, em que as pessoas apresentam seus amigos dizendo “o meu amigo oculto é inteligente, bonito, esperto...”. Nem mesmo as crianças escaparam do advento moderno do amigo oculto e suas cartinhas de natal se transformaram em “Querido Papai Noelzinho. Esse ano fui um bom menino, mas tirei o meu vovô no amigo oculto e quero pedir pra você trazer pra mim um pijama no valor de até trinta reais (com o mínimo de quinze) pra eu dar pra ele”.

O amigo oculto começa com um monte de gente sem graça e termina com todo mundo frustrado, achando que seria melhor se tivesse ficado com o presente que comprou pra dar. Na verdade, o amigo oculto devia se chamar ‘amigo da onça’, ‘amizade desfeita’ ou ‘pode trocar’. Esse último, na minha opinião, é o melhor porque se existe uma lei no amigo oculto é que qualquer roupa que você der a pessoa sempre irá trocar. Se você acertou na cor, errou o modelo, se acertou o modelo, errou na marca e se acertou no tamanho você chamou a pessoa de gorda e estragou o natal dela. O amigo oculto é uma espécie de roleta russa social, com a diferença que nele você sempre será acertado, e provavelmente por um par de meias. Mas ao contrário do que possa parecer, eu até admiro quem dá isso de presente, porque a pessoa está sendo honesta e dizendo “olha, não faço ideia do que você gosta, mas sei que você usa meia”. O grande problema são aquelas pessoas que não bastando querer adivinhar o seu gosto, querem te surpreender. Essas, sim, são perigosas. São elas que aparecem com um ‘abajur decorativo’ que assustará até o seu cachorro, sabonetes com aromas que nunca mais sairão de suas mãos ou calças amarelas fluorescente modelo saruel que você não escapará de vestir para ‘provar’ que gostou, chegando no trabalho parecendo uma mistura de Latino com Mc Hammer.

Como se sabe, esse costume de trocar presentes surgiu quando os reis magos levaram pequenos agrados para Jesus, que acabara de nascer na manjedoura. E, talvez, esse tenha sido o primeiro amigo oculto da história! Afinal, quer um amigo mais oculto do que alguém que você não sabe quem é, onde está e que só consegue encontrar depois de passar horas em cima de um camelo seguindo uma estrela guia? Se o bom menino tivesse nascido atualmente, ao invés de mirra, incenso e ouro, certamente ele teria ganhado velas aromáticas, um porta retrato e cuecas.

Uma vez, na festinha de final de ano do trabalho, nós levamos presentes para sortear o amigo oculto na hora. Estava tudo bem até que abri meu papelzinho e li “Amadelene”. Pensei “Valha-me-creio-em-deus-pai, quem é essa pessoa?”. Calmamente, para não entregar que eu não sabia de quem se tratava, olhei de soslaio para cada uma das pessoas da sala buscando me lembrar do nome de cada uma. Como uma questão de vestibular de faculdade particular, liguei a coluna de nomes na coluna de rostos e percebi que todas as pessoas estavam ali e nenhum delas se chamava Amadelene. É uma situação complicada porque como você vai descobrir quem é a pessoa sem que ela perceba que você a tirou de amigo oculto? Pensei em gritar rapidamente “AMADELENE!” e ver quem iria olhar, mas se a pessoa estivesse próxima a mim seria pego em flagrante. Até cheguei a pensar em atender o telefone da sala e dizer “O que? A mãe da Amadelene morreu?!”, e ficar esperando pra ver quem ia começar a chorar, mas achei isso meio exagerado. Mais pessoas poderiam começar a chorar e isso iria me atrapalhar de descobrir quem era a tal Amadelene.

Então tomei a decisão mais sábia: perguntar para minha chefe, afinal ela conhecia todo mundo. Me aproximei dela sorrateiramente e pedi para conversar a sós. “Oi. Sabe o que é, eu sei que é meio ridículo não guardar o rosto de uma pessoa que tem um nome tão bizarro como esse, mas tirei essa tal de Amadelene e não sei quem é, acredita?”, disse terminando com uma risada sutil para descontrair o ambiente. Mas a cara fechada dela me indicou que algo estava errado. Na verdade, muito errado. “Amadelene é o meu nome”, ela falou secamente. Na hora eu entendi da onde vinha o ‘Leninha’ que estava no seu crachá. A minha vontade era cortar os pulsos ali mesmo e esfregar o sangue nos meus olhos até que eu não pudesse mais me enxergar naquela cena ridícula, mas como não tinha nenhuma navalha à mão e a caneta Bic não era afiada o suficiente, sorri nervosamente. “Amadelene vem de amada helena”, disse minha chefe enquanto eu forçava a ponta da caneta contra meu pulso, “foi uma homenagem ao nome da minha avó e eu tenho muito orgulho dele!”.

Como o haraquiri com caneta esferográfica não tinha funcionado e eu não havia comprado um apartamento para dar de amigo oculto para ela, percebi que não teria como me desculpar. Pedi licença, me escondi no último box do banheiro e esperei até que a festinha acabasse. Tenho certeza que na hora da troca de presentes eu fui o amigo mais oculto que alguém já teve.
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Leias as crônicas anteriores aqui.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

: maneiras estúpidas de morrer

A empresa de metrô da cidade de Melborne, na Austrália, lançou um vídeo para fazer um alerta de segurança para seus clientes, em que pequenos monstros morrem das maneiras mas absurdas. O resultado é ovídeo "Dumb Way to Die", uma animação bem legal sensacional com uma música que acaba ficando na cabeça. Ah sim, é tudo em inglês.

É uma espécie de Happy Tree Friends menos frenético.