Nome composto
Eu não gosto de pessoas que têm
nome composto porque nunca sei como chamá-las. Ana Carolina ou só Carolina? Escolho
João ou o segundo nome, Paulo? Chamo Pedro com ou sem Henrique? Já fui
ridicularizado quando chamei Luiz Gustavo de Gugu e quase apanhei ao chamar um
José de Maria. São tantas possibilidades que só sendo
um matemático para traçar todas as combinações possíveis. E eu nunca fui muito
bom em matemática ou aritmética, sei lá, jamais soube como chamar. O pior é
quando a pessoa tem verdadeira ojeriza (aversão, nojo e antipatia, para você
que não tem um dicionário de sinônimos à mão) a um dos nomes, o que é muito
comum. É sempre um risco você chamá-la pelo nome errado e perder uma amizade
antes mesmo dela começar.
Mas apesar de achar uma confusão terrível
conviver com pessoas de nome composto eu até consigo aceitar que elas existam. Afinal,
alguns nomes se tornaram tão comuns que precisam de outro ao lado para evitar
problemas. Imagine a primeira vez que o nome composto apareceu na humanidade.
Aquela confusão na sala de aula com trinta pessoas de nome Carlos levantando a
mão e gritando “eu, eu!”, até que de repente o professor chama Carlos Eduardo.
O silêncio toma conta da sala e todos olham na direção de apenas um homem que levanta
firmemente sua mão. Épico.
Mas a minha maior dificuldade é aceitar
quem tem um nome composto, digamos, exótico, como no caso de Timótio André ou
Eguiberto Jorge. Eu desafio alguém a me explicar o incomum Timóteo que
acompanha o André ou o acanhado Eguiberto junto de um Jorge! Passei muito tempo
imaginando como será que os pais escolhem um nome desses e cheguei à conclusão
que só pode ser por sorteio. Os pais devem ter colocado vários papeizinhos com
nomes em potes separados e escolhido um de cada. Inclusive eu conheço um caso
em que a mãe quis aumentar as chances do nome preferido sair durante o sorteio
e acabou tendo um filho chamado Pedro Pedro Pedro, o famoso Pedro Três.
Mas o que mais me preocupa é que
desde criança o portador de nome composto (ou PNC) é acostumado a ouvir mais um
nome do que outro. Enquanto chamar por um dos nomes é uma forma de intimidade,
proximidade e carinho, o outro nome aparece na hora da conversa séria, da
repreensão. Assim “Jorge, vem cá” é dita com amor e alegria, ao contrário do
“Eguiberto Jorge, venha já aqui!”, que já ganha um tom ameaçador e contornos de
desespero. Por passarem grande parte de suas vidas tentando esconder a verdade,
o nome negado ganha aspectos horríveis, passando a ser uma espécie de lado
negro da personalidade. Se uma criança é chamada de Renata sempre que algo bom
acontece, como “Vêm Renata, vamos para o parquinho!”, “Renata, olha a
sobremesa!”, e chamada pelo nome todo na hora do “Renata Augusta, quem botou o
controle da televisão dentro do microondas?”, logo ela entenderá que um nome
representa o bem e o outro o mal. É por isso que PNC’s possuem uma alta
incidência de dupla personalidade. É fácil identificar essas pessoas, pois são
elas que no primeiro dia de aula vão até a mesa do professor e pedem para não serem
chamadas pelo tal nome. Por isso, quando durante a chamada ouvir de repente um
André entre Taíses e Terezas, saiba que ali há potencialmente um Timóteo.
Lembro-me que estava em um
barzinho com um amigo chamado João e um colega dele de infância se aproximou
com grande ar de intimidade e o chamou de Igor. “Igor?”, pensei, “Como é
possível que o João seja um Igor?”. Fiquei sem reação ao descobrir que ele era
um PNC. É muito estranho você conhecer a pessoa há anos e simplesmente não
saber o nome dela. A partir daí várias dúvidas começaram a surgir. Por que será
que ele nunca me contou o outro nome? O que será que ele queria esconder? Seria
por vergonha ou por acaso eu não seria digno do Igor dele? São muitas questões
que envolvem portadores de nome composto. Sinceramente, eu até teria aceitado
desculpas se ele fosse um João Igor, mas quando descobri que era um Igor João deixei
de ser amigo dele. Não suportei saber que aquela era uma amizade de segundo
nome.
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