sexta-feira, 4 de maio de 2012

: crônicas daqui (03)

Nome composto
Eu não gosto de pessoas que têm nome composto porque nunca sei como chamá-las. Ana Carolina ou só Carolina? Escolho João ou o segundo nome, Paulo? Chamo Pedro com ou sem Henrique? Já fui ridicularizado quando chamei Luiz Gustavo de Gugu e quase apanhei ao chamar um José de Maria. São tantas possibilidades que só sendo um matemático para traçar todas as combinações possíveis. E eu nunca fui muito bom em matemática ou aritmética, sei lá, jamais soube como chamar. O pior é quando a pessoa tem verdadeira ojeriza (aversão, nojo e antipatia, para você que não tem um dicionário de sinônimos à mão) a um dos nomes, o que é muito comum. É sempre um risco você chamá-la pelo nome errado e perder uma amizade antes mesmo dela começar.

Mas apesar de achar uma confusão terrível conviver com pessoas de nome composto eu até consigo aceitar que elas existam. Afinal, alguns nomes se tornaram tão comuns que precisam de outro ao lado para evitar problemas. Imagine a primeira vez que o nome composto apareceu na humanidade. Aquela confusão na sala de aula com trinta pessoas de nome Carlos levantando a mão e gritando “eu, eu!”, até que de repente o professor chama Carlos Eduardo. O silêncio toma conta da sala e todos olham na direção de apenas um homem que levanta firmemente sua mão. Épico.

Mas a minha maior dificuldade é aceitar quem tem um nome composto, digamos, exótico, como no caso de Timótio André ou Eguiberto Jorge. Eu desafio alguém a me explicar o incomum Timóteo que acompanha o André ou o acanhado Eguiberto junto de um Jorge! Passei muito tempo imaginando como será que os pais escolhem um nome desses e cheguei à conclusão que só pode ser por sorteio. Os pais devem ter colocado vários papeizinhos com nomes em potes separados e escolhido um de cada. Inclusive eu conheço um caso em que a mãe quis aumentar as chances do nome preferido sair durante o sorteio e acabou tendo um filho chamado Pedro Pedro Pedro, o famoso Pedro Três. 

Mas o que mais me preocupa é que desde criança o portador de nome composto (ou PNC) é acostumado a ouvir mais um nome do que outro. Enquanto chamar por um dos nomes é uma forma de intimidade, proximidade e carinho, o outro nome aparece na hora da conversa séria, da repreensão. Assim “Jorge, vem cá” é dita com amor e alegria, ao contrário do “Eguiberto Jorge, venha já aqui!”, que já ganha um tom ameaçador e contornos de desespero. Por passarem grande parte de suas vidas tentando esconder a verdade, o nome negado ganha aspectos horríveis, passando a ser uma espécie de lado negro da personalidade. Se uma criança é chamada de Renata sempre que algo bom acontece, como “Vêm Renata, vamos para o parquinho!”, “Renata, olha a sobremesa!”, e chamada pelo nome todo na hora do “Renata Augusta, quem botou o controle da televisão dentro do microondas?”, logo ela entenderá que um nome representa o bem e o outro o mal. É por isso que PNC’s possuem uma alta incidência de dupla personalidade. É fácil identificar essas pessoas, pois são elas que no primeiro dia de aula vão até a mesa do professor e pedem para não serem chamadas pelo tal nome. Por isso, quando durante a chamada ouvir de repente um André entre Taíses e Terezas, saiba que ali há potencialmente um Timóteo. 

Lembro-me que estava em um barzinho com um amigo chamado João e um colega dele de infância se aproximou com grande ar de intimidade e o chamou de Igor. “Igor?”, pensei, “Como é possível que o João seja um Igor?”. Fiquei sem reação ao descobrir que ele era um PNC. É muito estranho você conhecer a pessoa há anos e simplesmente não saber o nome dela. A partir daí várias dúvidas começaram a surgir. Por que será que ele nunca me contou o outro nome? O que será que ele queria esconder? Seria por vergonha ou por acaso eu não seria digno do Igor dele? São muitas questões que envolvem portadores de nome composto. Sinceramente, eu até teria aceitado desculpas se ele fosse um João Igor, mas quando descobri que era um Igor João deixei de ser amigo dele. Não suportei saber que aquela era uma amizade de segundo nome.

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